Por Carlos H. Silva
Para alguém que é ligado em música, digo, muito ligado
em música, é sempre motivo de curiosidade quando há algum lançamento no cinema
em que um músico esteja diretamente conectado.
Eu nunca fui um entusiasta do chamado “rock de Brasília”,
gostei bastante de Capital Inicial quando eles ainda tocavam rock, e gosto da
Plebe Rude. A Legião Urbana nunca me encantou. Acho que algumas bandas mais
desconhecidas são melhores do que as grandes. A Legião talvez seja a maior
banda da história do rock nacional, uma das mais cultuadas e Renato Russo é a maior figura já surgida no cenário, isso é inquestionável gostando dele ou não. Mas mesmo não tendo essa relação de gostar
muito da cena de Brasília, eu sempre achei interessantes as histórias daquela turma. A
Turma da Colina. Lembro-me quando o Capital voltou em 1998 e o Dinho Ouro Preto, vocalista, vivia
falando sobre um livro que lançaria sobre aquilo tudo que acontecia em Brasília
naquela época; até hoje espero esse livro.
De lá pra cá, já foram lançados documentários,
especiais das redes de TVs ligadas à música e o recente filme Somos Tão Jovens, dirigido por Antonio Carlos Fontoura e estrelado por Thiago
Mendonça, que conta a trajetória de um determinado período da vida do mentor
daquela galera: Renato Russo.
Thiago tem uma atuação assustadoramente eficiente, seus
trejeitos (além da aparência física), seu tom de voz (é ele quem canta nas
versões do filme) e tudo mais, fazem parecer que estamos vendo o próprio vocalista interpretando a si mesmo. Para mim é o grande destaque do filme. Laila
Zaid não fica atrás e interpreta a grande amiga do cantor da Legião Urbana, Ana Cláudia, para
quem ele compôs a canção “Ainda é Cedo”,
e podemos ver no filme o porquê.
Como dito, o filme se passa em um determinado período,
de mais ou menos 1973 a 1983. Mostra a fase em que Russo sofreu com uma séria
doença nos ossos, a descoberta do Punk Rock inglês, a rebeldia questionadora
dentro de casa, seus próprios questionamentos sobre sua sexualidade, o início
do envolvimento com drogas e bebidas e a formação do baluarte do punk
brasiliense, o Aborto Elétrico, as brigas com os companheiros de banda, a fase
como Trovador Solitário (onde se apresentava apenas em voz e violão e escrevia
suas fábulas como “Eduardo e Mônica”
e “Faroeste Caboclo”) e o surgimento
da Legião Urbana.
Quando o filme acaba, dá-se a impressão de que “acabou
na melhor hora”, que é justamente quando a Legião Urbana surge para o Brasil,
mas temos que lembrar que a proposta do filme era exatamente essa: a de contar
a vida de Renato pré-Legião Urbana. Portanto, se você for ao cinema esperando
ver um filme sobre o auge da Legião, ou a doença e morte do cantor, esqueça. O
foco aqui é no jovem e sonhador Renato Russo, com seus 20 e poucos anos.
Um dos momentos mais tensos – e ao mesmo tempo mais
divertidos – é a interpretação de Sérgio Dalcin como Andre Pretorius, um
sul-africano membro fundador do Aborto Elétrico. Ibsen Perucci fez um
convincente Dinho Ouro Preto, com direito àquele detalhe do nariz e tudo. Herbert
Viana foi representado por Edu Moraes que em determinados momentos soou
forçado, mas de fato o Herbert fala daquele jeito mesmo. Flávio Lemos, baixista
do Aborto e do Capital, foi feito por Daniel Passi, que não só representou bem
a timidez do músico, como se parece muito fisicamente com ele, ao contrário de Bruno
Torres que fez o papel de Fê Lemos, o baterista, que além de não parecer
fisicamente com o mesmo, ainda deixou o personagem com uma imagem meio rude.
A verdadeira Turma da Colina. Crédito foto: Facebok Dinho Ouro Preto |
Gostando ou não da figura do compositor, é um filme importante
para quem gosta da cena do rock nacional dos anos 80, principalmente por
mostrar de onde vieram as inspirações e os ideais daquela turma, por ser um
longa extremamente fiel aos relatos que ouvimos durante todos esses anos de
todos os músicos que se formaram no Rock de Brasília – e não só sobre a cena,
mas sobre o espírito de líder que Renato tinha sobre toda a turma, bem como
sobre o que todo mundo sempre falou da personalidade do cantor, de não ser
uma pessoa fácil de se lidar - mas ao mesmo tempo bastante emotiva. Aliás, vendo o filme fica ainda mais fácil de compreender as razões de algumas letras do compositor.
Uma hora e quarenta minutos que passam voando, tamanha a conexão entre as cenas e o desenrolar da história que não perde o pique em nenhum momento.
A turma da colina na versão do filme |
E Faroeste
Caboclo – o filme, vem aí...
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