Por Carlos H. Silva
Antes de
qualquer coisa, temos que situar que 13
não é apenas o novo álbum do Black Sabbath. É o primeiro disco do Black Sabbath
com Ozzy Osbourne desde 1978. E temos que situar também que a banda foi a
inventora do heavy metal. Tudo que escutamos hoje na música pesada, qualquer
coisa, derivou do Black Sabbath. E por isso não causa surpresa alguma a
sonoridade que o agora trio – o baterista original, Bill Ward, não participou por questões contratuais e financeiras – apresenta neste lançamento. É o velho Black Sabbath.
Nas
entrevistas logo após o término das gravações, Ozzy chegou a dizer que 13 era o que a banda deveria ter
lançado após Sabbath Bloody Sabbath (1973), e faz todo o sentido do mundo
quando o escutamos de cabo a rabo.
De cara já
temos a abertura com End of the Beginning,
que evoca à primeira canção do primeiro álbum, a própria Black Sabbath, com seu riff lento e sua batida assustadora. E é por
aqui que começo a falar dos músicos: o baterista Brad Wilk
(Rage Against the Machine) fez um trabalho digno dos mais altos elogios em todas as canções,
fazendo o ouvinte imaginar o tempo todo que quem está ali é o próprio Bill
Ward, tamanho o feeling da banda que o músico teve ao tocar em estúdio com o
trio. Mesmo não sendo um quase
jazzista como Bill Ward, Wilk o encorporou com precisão e talento.
Tony Iommi,
o maior riffmaker da história, brilha
o disco todo com seus pesados riffs e característicos solos. Na faixa de
abertura já citada, o guitarrista dá uma aula com um solo cheio de feeling. God is Dead?, que foi a primeira canção
a ser escutada na íntegra antes do lançamento, segue a linha da anterior com um
clima lento e tenso e culmina com um riff destruidor que levanta o tempo da
música para depois terminar no ótimo refrão.
Uma das
características do produtor Rick Rubin é resgatar o passado das bandas que
produz. E ele sempre disse que sua intenção com o Black Sabbath era ter aquela
sonoridade e feeling setentista novamente. Ele nem precisaria de muito esforço,
os próprios músicos saberiam como fazer isso. Bastou a Rubin moldar isso. E Loner é prova disso. Com um riff direto
que parece ser irmão mais novo (40 anos mais novo) de N.I.B., a canção leva o ouvinte de volta ao debut, coisa
que a primeira faixa já havia feito com maestria. Zeigeist é mais uma que lembra o passado, sendo esta uma irmã
próxima de Planet Caravan. O clima
soturno e a percussão dão o clima da canção que tem um bonito refrão.
Muito pode ser
dito sobre Ozzy Osbourne. Que está velho e acabado, lesado, que não sabe usar
um controle remoto, que anda estranho, que Dio é melhor (a turma da rixinha é
complicada, o que vai ter de gente comparando 13 com The
Devil You Know não será brincadeira), etc, etc, etc. Mas após todos esses
anos, todos esses abusos, todas as recaídas e ter um desempenho como teve aqui, é digno de elogios. É óbvio que não tem mais o alcance que tinha nos
anos 70 – quando também não era um cantor em excelência mas, como em toda sua
carreira, compensava com carisma e paixão -, porém Ozzy apresenta uma voz
consistente e em Age of Reason é onde
mais brilha. E a canção ajuda. Com seus sete minutos de duração, cheia de mudanças
de andamento e nuances, poderia facilmente fazer parte de Master of Reality (1972).
Um dos momentos mais sublimes está no solo de Iommi para esta faixa. Tomara que
seja incluída nos shows, pois será uma pintura ouvir isso ao vivo.
O final do
disco não deve nada ao começo e ao miolo; Live
Forever é uma típica faixa do Black Sabbath: pesada, alterna momentos
lentos com riffs rápidos e um refrão marcante. Damaged Soul é o que eu chamo de “blues do inferno”, justamente por
vir do Black Sabbath. Com seu astral de “Jam no estúdio”, Iommi brilha nos
solos e riffs blueseiros, enquanto Ozzy tem outra brilhante interpretação – e ainda
nos brinda com uma rápida aparição de sua gaita. Dear Father é um ótimo encerramento e ainda traz um simbolismo que
de certa forma é emocionante: os caras do Black Sabbath já estão na faixa dos
65 anos. A produção de um novo lançamento hoje em dia dura de 2 a 3 anos. A turnê
mundial, mais 1 ano e meio, no mínimo. Muito provavelmente 13 será sim o último disco de inéditas que é lançado sob o nome de
Black Sabbath. E após o encerramento da última canção, vem o som de sinos e
trovões. Sinos e trovões que também abriam a primeira faixa do primeiro álbum
da banda, lá em fevereiro de 1970. Simbólico.
Deixei para
o final escrever sobre um dos maiores destaques – não digo o maior, porque são várias coisas grandiosas aqui – que é o baixista Gezzer Butler. Poucas
vezes ouvi um som de baixo soar tão bem em um álbum todo; Gezzer espanca seu
instrumento com classe, que “ronca” em todas as faixas, em alguns momentos
lembrando o trabalho já feito pelo próprio em Master of Reality. Gezzer
é um mestre do instrumento e seu trabalho aqui é simplesmente fantástico, quase
sem palavras.
13 não trouxe nada de novo ao som do Black Sabbath. E nem
precisava. E muito menos era isso que os fãs queriam. Todos queriam ouvir o
velho Black Sabbath e ver se esses caras ainda sabiam fazer aquilo. E claro que eles sabem, afinal
foram eles que inventaram. O gênero deste disco? Não é apenas “heavy metal” e
sim “Black Sabbath, o criador disso tudo”.
Nota: 9.0
1. End of the Beginning
2. God is Dead?
3. Loner
4. Zeitgeist
5. Age of Reason
6. Live Forever
7. Damaged Soul
8. Dear Father
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