Versus (X): o pós-Roots de Sepultura e Max cavalera

Roots (1996), do Sepultura, produzido por Ross Robinson, foi a obra máxima envolvendo o thrash metal misturado com as influências brasileiras, como berimbau e percussão, com a cultura indígena (Jasco e Itsári, inclusive, foram gravadas com uma tribo) e com uma sonoridade – principalmente de guitarras – que influenciou e muito o então novo metal dos Estados Unidos, tão execrado por boa parte dos fãs trues brasileiros. O disco foi um sucesso absoluto e vendeu mais de dois milhões de cópias pelo mundo. E deu ao Sepultura seu maior sucesso comercial (lembre-se sempre que estamos falando de uma banda de metal, então o sentido de "sucesso comercial" aqui é outro): Roots Bloody Roots.



Após isso, por divergências pessoais e até certo ponto familiares - Igor, Andreas e Paulo não queriam mais trabalhar com Gloria, esposa de Max, como empresária - houve um racha na banda: o vocalista e guitarrista Max Cavalera abandona o barco e forma o seu próprio grupo, o Soulfly.

Em 1998, o mundo do heavy metal viu como as duas bandas se saíram no pós-Roots.

Soulfly (1998)

Em 21 de abril de 1998 foi lançado Soulfly, o debut da então nova banda de Max Cavalera, de mesmo nome do álbum.



Com o mesmo produtor de Roots, o álbum soa como uma continuação desse disco, só que com uma inclinação maior ao metal alternativo (vulgarmente conhecido como nu metal) praticado pelas bandas americanas daquele momento, como Korn, Deftones e Limp Bizkit. Jonathan Davis, do Korn, já havia participado em Roots, e agora Fred Durst, do Limp Bizkit, participou em Bleed, primeiro single do Soulfly, bem como Chino Moreno, do Deftones, pinta em First Commandment.

Bleed, como escolha para primeiro single, talvez seja uma das maiores responsáveis pela malhação que o disco sofreu. Longe de ser uma canção ruim, era só algo bem diferente do que os fãs estavam esperando. E as passagens com rap, djs e a participação de Durst, uma figura sempre odiada no meio do metal, só ajudaram o Soulfly a ser tachado como "mais uma banda de new metal".


Guitarras com afinação baixa, riffs “gordos”, batida tribal e refrãos fortes são as marcas presentes aqui - e claro que você sabe de onde veio tudo isso. A dobradinha de início é clássica - e uma delas é que deveria ter sido escolhida como primeiro single: Eye for an Eye e No Hope = No Fear, que junto com Tribe, Fire e No são as melhores canções do cd. Max não esqueceu o lado experimental com ritmos diferentes e com a tradicional faixa-título mostra o lado acústico e percussivo de sua criação, enquanto, por outro lado, presta homenagens à MPB brasileira com um cover de Umbabarauma, de Jorge BenJor. A porradaria de The Song Remains Insane, com direito a trecho de Caos, do Ratos de Porão, é outra faixa que merece atenção.

Soulfly é considerado por muita gente como um disco de nu metal, para outros apenas o que seria o próximo disco do Sepultura caso ele continuasse na banda. Independente de um ou outro, Max Cavalera é um sujeito que consegue tirar o máximo seja lá qual for sua intenção. Hoje o Soulfly tornou-se uma banda com uma inclinação bem maior para o thrash e death metal, e está indo muito bem – mas quando Max quis se aventurar na praia do que estava rolando naquele momento nos Estados Unidos e misturou com tudo o que havia feito com o Sepultura alguns anos antes, lançou um álbum que se tornou referência para um gênero e mais: criou uma sonoridade que faça com que poucos segundos sejam necessários para sabermos que se trata de uma obra sua.

A formação que registrou foi com Max Cavalera no vocal e guitarra, Lúcio Maia (registrado como Jackson Bandeira) na guitarra, Marcelo D. Rapp no baixo e o monstruoso Roy Mayorga na bateria.

Trecho de um ensaio do Soulfly em 1998, já com Logan Mader no lugar de Lúcio na guitarra-solo. No Hope = No Fear:


De qualquer modo, Soulfly precisou do teste do tempo para ser mais apreciado e respeitado, pois quando foi lançado tomou muita pancada da crítica, bem como o disco que figura no outro canto desse post.


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Against (1998) 


Em 06 de outubro de 1998, o Sepultura apresenta ao mundo o seu sucessor de Roots, o seu novo vocalista e sua nova sonoridade, agora com apenas uma guitarra e com Andreas ajudando no vocal.



Inicialmente, após a saída do antigo vocalista/guitarrista, os caras trabalharam em estúdio como trio, com Andreas assumindo o vocal - como chegou a fazer ao vivo em alguns shows que Max não pôde fazer. Chegaram a um senso comum de que Andreas não daria conta sozinho dos vocais do Sepultura.

Se Max optou por unir as influências tribais com o nu metal, o Sepultura optou por unir as mesmas influências com o hardcore. Trouxe um vocalista americano que tinha experiência na cena de Nova York, Derrick Green, e grava Against, com produção de Howard Benson e da própria banda.

As duas primeiras faixas do álbum já mostram bem o que podemos esperar do resto: enquanto a faixa-título é um hardcore rápido e certeiro, a segunda, Choke, é lenta, pesada e com um ótimo trecho percussivo no meio da canção. 



Floaters in Mud explora algumas características da música brasileira e indígena, enquanto Tribus e T3rcemillennium são completamente instrumentais e tribais, com trechos acústicos de muita qualidade de Andreas Kisser, que é um mestre nesse tipo de sonoridade. Jason Newsted, ex-baixista do Metallica, participa da pesada Hatred Aside e João Gordo detona em Reza - faixa que causou a briga de Max e João que até hoje não foi resolvida, embora os dois músicos já terem declarado que gostariam de fazer as pazes; segundo João, Max achou na época que a letra de Reza foi feita para ele e achou sua participação em um disco do Sepultura como uma "tomada de lado" por sua parte.

Drowned Out, Hatred Aside e Unconscious são crossovers na linha da faixa-título, só que com mais experimentações; Rumours, Common Bonds e Boycott fazem bem a transição do metal com algo mais lento e "falado", além das influências percussivas.

Ouça a versão demo de Common Bonds, com Andreas no vocal:



Há também uma influência percussiva não-brasileira. A faixa Kamaitachi foi gravada no Japão com um grupo de percussionistas japoneses chamado Kodo.

Andreas, Paulo e Igor, agora com Derrick, souberam mostrar que a influência brasileira no som do Sepultura não foi uma coisa vinda 100% do Max, como muita gente pensa(va).

Against também foi muito criticado por fãs e jornalistas, principalmente aqui no Brasil; lá fora, sempre tiveram um olhar melhor para as misturas com ritmos brasileiros dentro do heavy metal. Mas assim como Soulfly, Against hoje goza de um respeito um pouco maior e mostra a visão da banda do que queriam com o Sepultura pós-Roots.

De um lado tivemos uma banda que juntou o tribal e a percussão brasileira com o nu metal americano, de outra tivemos uma que misturou isso ao hardcore. E ambas as misturas saíram boas.


O Versus (X) de hoje não quer inspirar nenhuma rivalidade, até porque esse seria um tema para quinze anos atrás, e não para 2013. Esta edição da coluna apenas mostrou como os dois lados da moeda que fez de Roots um sucesso mundial se saíram após a separação e cada um ir para o seu canto. 

Independente de qual é o melhor álbum, as duas bandas seguem firme atualmente, até mesmo com a sonoridade bem diferente desses dois discos. Papos sobre reunião sempre rolam, não é segredo que Max Cavalera quer e que Andreas acha que ainda não é tempo disso. 

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