Hey pessoal!
Tomei a
liberdade de sair de minha caverna hoje e vir aqui para dar uma passeada, e
aproveitando que cá estou decidi dar uma dançada entre outros gêneros, afinal
nem só de Stoner vive um homem.
Zapeando
meus arquivos encontrei algo que não ouvia há tempos e rolei o play do início
ao fim umas três vezes. Falo de um cara muito massa, joia e bacana, que faz um chamado
“Brega”, que apesar do nome – não vejo problema nenhum no nome, mas existem
aqueles que não vêm com bons olhos – faz um sonzão bem diferente, mandando uns
solos bem trabalhados, uns riffs marcantes, as vezes uns sintetizadores que
abusam da psicodelia, trazendo à tona a mescla, que mais brazuca impossível, de
MPB com o peso do Manguebeat. Ex-percursionista do Mundo Livre S.A. é claro que
estou falando de Otto!
O cara é um
gênio, isso é notável por suas letras e também quando concede entrevistas às mídias
sociais. Sem dúvida ele tem uma carreira de respeito, entretanto hoje hei de falar
apenas de um de seus álbuns, que por sinal é uma obra prima, um clássico,
excelente, o kafkiano, “Certa manhã acordei de sonhos intranquilos”. O disco
retrata de forma sucinta a vida de Gregor Samsa (personagem fictício de Franz Kafka em Metamorfose, no qual apresenta a vida de um rapaz, que
inexplicavelmente transformou-se num inseto e começa a notar que uma pessoa não
vale absolutamente nada quando não tem utilidade para os demais.) e interage
com a vida do próprio artista que na ocasião passava por uma fase conturbada.
O título do
álbum é exatamente a primeira frase do livro de Kafka, que por sinal não
precisa de muito para dizer que as coisas estão passando por algum problema.
A primeira
faixa traz a pesadíssima Crua que
insinua de forma bem direta a revolta de um homem ao saber que fora enganado por sua, até então mulher. O nome da canção demonstra perfeitamente o que uma pessoa sem sentimentos, por
mais piegas que pareça, pode ocasionar a um coração alheio.
Em seguida
temos a elegante O leite onde ele faz
dueto com a excelente interprete Céu, e nessa falam também do que é
entristecedor. Abusa de metáforas e parábolas quando diz, “O leite derramado
sobre a natureza morta, me choca me choca, me choca me choca...” vale a pena
ouvir ao invés de só comentar, se liga.
Logo após
temos Janaína, que num ritmo mais
festeiro começa a deixar de lado esse chororo e anima um pouco as coisas. Em quarto
lugar, na ordem, temos Meu mundo que
exemplifica sem maiores delongas aquilo que citei lá em cima de sintetizar e
mesclar brega com o peso do estilo criado em Recife.
Aí então se
pensa, “Ah ele superou as desgraças”, eis então que nos aparece uma tal chamada 6 minutos, pra mim o ápice da gravação, que logo de início manda um
solo emocionante e é a mais Rock ‘n’ Roll de todo o play. Ela detona nas orações falando de nascimento e morte de um relacionamento e tem uma das frases mais
belas que já ouvi, ela diz: “[...] Nasceram flores num canto de um quarto
escuro, mas eu te juro são flores de um longo inverno...” Perceptivelmente
evidenciam o fato de que as coisas foram difíceis por um período e custaram a
voltar ao normal. Ouvindo fica mais fácil de entender.
Para
continuar a belíssima Lágrimas negras entoa
um pouco mais essa questão da intranquilidade. Ela é, mais uma vez, um dueto,
porém dessa vez com a cantante Julieta
Venegas, moça californiana, contudo de cultura mexicana, que irrefutavelmente canta
com seu sotaque espanhol, dando um ar todo soturno e sorrateiro a canção. Saudade é a faixa seguinte que já
mostra a volta por cima de nosso herói e que “como um bom barco no mar”
ele foi e as coisas ficaram bem, em todos os sentidos, já que esse registro que
estamos citando o reergueu no mundo da música. A oitava é uma versão,
lindíssima e fiel de Naquela mesa do
saudoso Nelson Rodrigues, onde fala de forma bem carinhosa do sentimento de um
filho para com o pai, vale muito a pena conferir, pois são dois bárbaros
artistas representados em um só.
Para prosseguir, nossa penúltima é Filha que de certa
forma não deixou o rancor de lado e nem creio que tenha tido a intensão, já que
depois de um compilado de dez faixas só falando de tudo aquilo que não saiu nos
conformes, uma mais não seria de todo mal.
Por fim Agora sim, que agora sim mostra que o
que passou passou e tudo pode enfim começar outra vez. Cheia de palavras que
parecem soltas, contudo retomando a tudo aquilo que foi cantado nas anteriores.
E isso é só!
Espero que tenham curtido. Tchauí tchau tchau!
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