Muitos ao chegarem até aqui devem se
perguntar: "o que esse suposto blog sobre 'rock' está postando
sobre Ed Motta??". O
TRMB é, acima de tudo, um blog de rock. Universalmente, um blog sobre música. E
como o rock nasceu do blues, e o heavy metal nasceu dessa mistura doida de
rock, blues, jazz e música clássica, não há problema algum em postar
aqui algo fora do lado “pesado” da força.
Além do mais, Ed Motta é um cara que manja
mais de rock do que muita gente que você conheceu na vida. Além de ser um dos
maiores colecionadores de discos em vinil do Brasil e fã de cantores
como Ronnie James Dio, David Coverdale e Robert Plant.
Mas este post é para escrever um pouco
sobre seu mais recente disco, chamado AOR
(Dwitza Music/LAB 344). No nosso universo, o universo do rock, entendemos por
AOR aquele AOR hard rock/melodic rock praticado por bandas como Survivor, Europe, Journey, Rainbow e outras nos anos 80. Porém, antes dessa galera,
houve um movimento chamado AOR Westcoast que invadiu as rádios FM no final dos
anos 70 e começo dos anos 80. Obviamente que a sigla AOR (Adult Oriented Rock)
está presente nos dois gêneros acima e obviamente também que isso significa
algo em comum: a grosso modo, refrãos poderosos e com muita melodia de fácil
assimilação, além da marcante presença de teclados. Adicione hard rock a essa
equação e você tem o AOR do rock pesado como conhecemos.
Ed adicionou pouca influência do AOR Hard
Rock em seu “AOR”, tendo focado mais em Steely Dan, Doobie Brothers, Todd
Rundgren, Christopher Cross e Chicago para fazer um AOR mais “roots”.
Para acompanhar o carioca nesse ousado
trabalho, vários convidados foram chamados para passear pelas dez faixas do
trabalho (uma lançada somente através do iTunes).
Torcuato Mariano, por exemplo, faz um belo
solo de guitarra na faixa de abertura, a sensacional Flores da Vida Real, onde também se destaca o arranjo de metais, o
solo de sax feito por Chico Amaral e uma progressão de acordes características
do AOR nos teclados (a galera do AOR Hard Rock começa a identificar as coisas
já por aqui).
David T. Walker (guitarrista de gente como
Stevie Wonder, Jackson 5 e Marvin Gaye, só para dispensar maiores
apresentações) participa em Ondas Sonoras,
uma das mais delicadas e brilhantes composições do álbum, com uma linha de
baixo marcante.
Marta, outra com uma linha de baixo
que se destaca (Robinho Tavares comandou o baixo no álbum), é bem funkeada e tem belas linhas de piano, Rhodes e tem o guitarrista Bluey no comando das seis cordas; S.O.S. Amor, com letra de
Rita Lee, tem um solo de guitarra muito bem feito por Paulinho Guitarra, além do piano de Glauton Campello.
Latido, uma homenagem de Ed à música
sulamericana, especialmente argentina, conta com participação de Dante Spinetta
(músico argentino) fazendo a narração e que também escreveu a letra. Possui um vibrafone tocado por Jota Moraes que deu um toque especial à canção, além do piano criando o clima jazzística junto com a bateria sincopada. Sensacional; 1978 também é muito boa, suingada, e se
destaca o excelente solo de guitarra com toques de fusion.
Por último, as minhas favoritas: Episódio, com uma marota guitarra
dobrada no início e os violões dando o tom nas estrofes, flerta, de longe, com
o AOR do melodic rock.
Mais do Que Eu Sei
(a que só está disponível no iTunes) é a que mais flerta com o AOR do hard
rock, com distorções e refrão grandioso -
com destaque aos belos alcances vocais de Ed, além das guitarras dobradas e licks faiscantes.
A Engrenagem é quase um AOR Progressivo, com uma performance matadora do
baterista Sergio Melo, um solo de guitarra também matador de Vinícius Rosa e os
teclados matadores – de novo – de Rannieri Oliveira, cheio de modulações
climáticas... o final da canção é uma viagem progressiva de primeira linha. E a
letra de Ed, assim como em Episódio,
parece ter endereço certo a alguém.
Há ainda uma vinheta com o nome do disco, AOR, onde Ed resume em menos de 30
segundos o que é o AOR - de novo, a grosso modo: um refrão de FM modelado por um teclado imponente e uma
melodia de fácil assimilação. É mais um exemplo em que nós, do mundo do rock,
podemos enxergar de onde vem os refrãos de Journey e Survivor que nos
conquistaram.
A perícia com que o disco foi feito, os
arranjos, a veia soul e jazz, mesclado com um clima de rock, às vezes disco music, às
vezes funk, tudo isso modelado pelo AOR, faz com que o álbum seja, como disse o
crítico Marcelo Donati, “pop music
servida com taça dourada”.
Toca na minha redação e é um dos meus
candidatos a Top 10 do ano.
- Carlos H. Silva
Nota: 9.5
1. Flores da Vida Real
2. S.O.S. Amor
3. Episódio
4. Ondas Sonoras
5. Marta
6. 1978
7. Latido
8. AOR
9. A Engrenagem
10. Mais do Que Eu Sei (somente pelo iTunes)
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