A primeira formação da banda com Vincent Crane, Nicky Graham e Carl Palmer. |
Por Rose Gomes
O Atomic Rooster é daquelas
bandas que são definidas em duas fases: seu início, com uma pegada
mais crua e fiel a certos elementos e uma segunda fase, com um som mais
perdido, sem identidade definida. No caso da banda em questão as décadas de 70 (nascimento do grupo) e
80 descrevem muito bem esta situação.Talvez seja por isso que o som dos caras seja meio difícil de definir,
afinal, eles passaram por mudanças radicais durante sua existência, mas eu
classifico a banda como sendo uma espécie de hard e progressivo com um leve
toque de blues. Parece complicado né? Só ouvindo mesmo pra entender.
A história dos caras é a
seguinte: Vincent Crane e Carl Palmer, sim, ele mesmo, do Emerson, Lake &
Palmer eram da banda de rock psicodélico
The Crazy World of Arthur Brown e resolveram formar o Atomic Rooster em 1969. Crane, o tecladista foi o
único membro constante, e coautor da maior parte do material da banda. Ao todo são sete álbuns de estúdio que mesclam um hard rock cruzão com progressivo, blues e infelizmente decaem
na década de 80 com dois álbuns meio perdidos feitos à base do som que rolava na época.
Quando eu resolvi falar do A.R
fiquei um pouco indecisa se comentaria sobre a discografia deles ou se deixaria
pra falar apenas do disco debut, o homônimo de 1970, que apesar de ser o mais
desprezado pela crítica e fãs é o que mais aprecio, então fiquei tentada a
falar rapidamente de todos, até porque pra quem não conhece o trabalho da banda
acaba sendo uma boa dica né?
Pra começar, como já disse
anteriormente, “Atomic Rooster” de 1970 é meu preferido. O disco de estreia da
banda traz um hard setentista muito bem elaborado com toques progressivos e um
instrumental divinamente bem executado, como na viajante “Before Tomorow”. A
pegada do blues se faz presente de maneira mágica na faixa que considero a mais
bela da carreira dos caras, a balada “Broken Wings” que destaca fortemente o
belo trabalho de Nick Graham no baixo e Vincent Crane no clássico órgão
Hammond. Enquanto as faixas “Friday the
13th” (que abre brilhantemente os trabalhos) e “S.L.Y” representam muito bem a
parte do hard setentista que eu já havia mencionado, com viradas extremamente
engenhosas de Carl Palmer na batera,
“Decline and Fall” se mostra mais experimental e apresenta
de maneira bem mais explícita os dotes musicais dos integrantes, com
forte destaque a Palmer que, mais uma vez mostra do que é capaz na bateria.
Todas as vezes que escuto este disco me pergunto o porquê de não o valorizarem
devidamente.
Ainda no ano de 1970 o Atomic
Rooster lançou um de seus maiores
sucessos, o álbum muito bem aceito pela crítica “Death Walks Behind You”, que
traz excelentes composições como a faixa-título, muito bem executada e "Tomorrow Night" que se tornou
uma das canções mais aclamadas pelos fãs. Deste álbum ainda destaco as faixas
"VUG" e "Gershatzer", ambas fortemente trabalhadas no progressivo. Vale lembrar que
este disco tinha a formação considerada por muitos como “clássica”, que contava
com John Du Cann na guitarra e vocais,
Vincent Crane no órgão e Paul Hammond na
batera.
No ano seguinte foi a vez de “In Hearing of”,
terceiro álbum da banda a dar as caras. O estilo permanecia o mesmo, só que
neste novo trabalho a banda trazia uma novidade: Pete French assumia os vocais,
o que na minha modesta opinião só acrescentou. Deste belo disco destaco as
faixas "Breakthrough" que traz caprichada harmonia entre piano e bateria,
“Black Snake” que me remete aos primórdios do
Deep Purple, talvez pelo teclado a lá Jon Lord de Vincent Crane, que
aliás também faz o vocal nesta canção e a instrumental “The Rock” que traz a
guitarra jeitosa de Du Cann contrastando de forma cativante ao órgão hammond.
O quarto álbum do Atomic Rooster,
intitulado “Made in England” traz um estilo mais voltado ao funk e ao soul,
graças à influência de Chris Farlowe, que assumiu os vocais nesta nova fase. A
banda já não contava mais com John Du Cann e Paul Hammond, respectivamente guitarrista e
baterista, que contrariados com os novos rumos musicais que o grupo tomava decidiram deixar a banda. Apesar do estilo
mais voltado ao som black, “Made in England” não deixou de lado as guitarras e o órgão e a
faixa “Time Take My Life” é prova disso. Carregada de saxofone, violinos e uma
boa percussão, a canção abre o disco de maneira brilhante. Outras faixas
interessantes do disco são a contagiante “Stand by Me” caprichada no wah-wah e
no baixo marcado e a viajante “Space Cowboy” que traz alguns efeitos
psicodélicos bem interessantes.
O ano era 1973 e o álbum “Nice
´n´ Greasy” era lançado em setembro. O quinto trabalho da banda seguiu o estilo
mais voltado ao soul do álbum anterior e Chris Farlowe parecia se soltar ainda
mais ao microfone, o que garantiu faixas com interpretações primorosas como
“All Across the Country” e "What You Gonna Do", composição do próprio
Farlowe que traz um blues swingado, gostoso de se ouvir. Outros destaques deste
trabalho ficam por conta das faixas muito bem executadas “Take One Toke” e
“Satan´s Wheel”.
A banda deu uma parada por sete
anos voltando em 1980 com o sexto trabalho denominado “Atomic Rooster”, assim
como o debut de 1970. O disco marca a volta de John Du Cann à banda reassumindo
os vocais e traz faixas bem mais pesadas, definindo uma nova fase do grupo.
“They Took Control of You” pode assustar àqueles mais acostumados com o estilo
antigo da banda, pois traz uma batida bem mais agressiva e vocais mais fortes.
“Where's the Show?” (faixa que originalmente entraria no trabalho solo de Du
Cann) e “Watch Out”(melhor faixa do álbum) são outros bons exemplos da mudança
radical. No mais o destaque fica mesmo por conta do órgão.
Chegamos ao sétimo e último
trabalho da banda, de 1983, “Headline News”. O álbum traz de volta Paul Hammond
na bateria e Vincent Crane volta aos vocais ocupando o lugar que Du Cann deixou
vago mais uma vez. Outra presença de forte destaque é a de David Gilmour (sim,
ele mesmo) na guitarra. Com um som mais futurista as faixas de maior destaque
são a dramática “Hold Your Fire”, a dark “Metal Minds” e “Dance of Death” que traz batida
típica da New Wave da época. Um disco
totalmente diferente do que a banda havia feito anteriormente.
A discografia da banda mostra
claramente que seus integrantes buscavam frequentemente por mudanças, o que
acabou culminando em discos fracos e mal sucedidos (na minha opinião) ,como os
dois últimos trabalhos. Ao ouvir mais uma vez a discografia dos caras reforço
ainda mais minha preferência pelo disco de estreia – “Atomic Rooster” de 1970 -
e indico ainda mais este trabalho desta brilhante banda que infelizmente se
perdeu em meio a tantos caminhos musicais que se abriram.
Belíssimo post. Curto essa banda pra caraio!
ResponderExcluirSó pra lembrar: amanhã, 14 de fevereiro, é o dia da morte do Vincent Crane. Que Deus o tenha, pois o cara merece. Um enorme talento, pouco reconhecido.
ResponderExcluirLegal sua resenha dos discos ! Obrigado !
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