Carlos H. Silva
Nos dias 20, 21 e 22 de setembro tive a oportunidade de assistir, in loco, o festival Rock in Rio, no Rio de Janeiro e publico aqui hoje um breve relato do que vi no palco principal, o Palco Mundo, onde as principais atrações das três noites se apresentaram.
E antes de me concentrar nos shows, devo escrever um pouco sobre a produção do evento. Dentro da "Cidade do Rock" tudo era bem dividido, como os brinquedos do parque de diversão, os locais onde comprava-se comida, os stands das patrocinadoras do evento e até mesmo o Palco Mundo em relação ao Palco Sunset; o único porém deixo para os banheiros. Relatos davam conta que a fila era interminável (sim, eu, heroicamente, consegui passar as 3 noites sem precisar usar o banheiro), e a demora de alguns causava transtorno de outros, que brigavam entre si, abriam as portas com outras pessoas dentro dos banheiros químicos e algumas pessoas mais radicais chegaram a fazer suas necessidades no espaço que havia entre uma cabine do banheiro e outra.
Vamos aos shows...
--->>> Sexta-feira, 20 de setembro
Fez o básico
No dia 20 o
primeiro show que consegui acompanhar foi o Matchbox 20, que fez uma
apresentação regular que se por um lado não arrancou gritos de histeria do
público, por outro lado não comprometeu a banda. Com uma boa competência para
fazer show (ótima característica para bandas que não tem grandes discos em
estúdio), a banda desfilou seus maiores hits, 3 A.M., Push e Unwell e ainda mandou um ótimo cover dos
Stones para Jumpin’ Jack Flash.
Alguns desinformados pediam por Smooth
(canção que o vocalista Rob Thomas gravou com Carlos Santana), mas o Matchbox
fez a lição de casa e saiu do palco com uma boa impressão.
O melhor da noite
Eu não sou
fã de Nickelback e nunca gostei de seus discos, mas eu respeito muito uma banda
que sabe fazer um show como esses caras fizeram no Rock in Rio. O vocalista
Chad Kroeger parece ter passado vários anos na Escola James Hetfield de
Frontmans. O cara praticamente emula James em algumas coisas, até mesmo a voz é
parecida (quando está falando e não cantando) e a postura no palco e o fato de
manter sempre o público entretido, fazendo brincadeiras e mantendo a galera em
suas mãos fazem lembrar do vocalista do Metallica. Chad brincou até com as pessoas que praticavam a tirolesa que fica
em frente ao palco, dizendo que no show do Bon Jovi ele desceria durante Livin’ on a Prayer. Um frontman de
respeito. O set list foi recheado de clássicos e praticamente todas as canções
foram ovacionadas, com especial as mais famosas como How You Remind Me e Photograph.
A banda certamente fez o show da noite, pois foi mais animada e teve maior interação
com o público do que o Matchbox 20 e em relação ao Bon Jovi, bem...
Um problema chamado set list...
O Bon Jovi
foi a atração principal da noite e estava desfalcado; o guitarrista Richie
Sambora está afastado desde abril e o baterista Tico Torres foi substituído por
Richie Scanella nos shows do Brasil devido a uma cirurgia de apendicite. Jon Bon
Jovi disse durante a apresentação que a banda cancelou os outros shows da turnê
mas que este no Rio não poderia ser cancelado de jeito algum pois era especial
demais. Que bom se isso fosse demonstrado ao público.
O começo
foi empolgante, apesar da abertura com a chata That’s What the Water Made Me, na sequência vieram You Give Love a Bad Name, Raise Your Hands e Runaway que deixaram o público em completo estado de euforia. E
aqui começou o problema. Daqui em diante só foram tocadas as chatas canções de
seus mais recentes discos com exceções feitas à chatérrima Keep the Faith (de 1992) e da enjoativa It’s My Life (de 2000). Durante essa “perna” do show, que durou
exatamente onze canções e pouco mais de uma hora, boa parte do público
abandonou o concerto e outra boa parte permaneceu sentada.
Os comentários que se
ouviam eram na base do “só ele que gosta
dessas músicas”, “como ele pode
estragar um show assim?”, “se ele
tocasse ao menos uma clássica a cada duas dessas novas...”, “quando ele pega o violão só vem porcaria”.
E é preciso explicar uma coisa aqui. As pessoas não pedem os clássicos só
porque elas são clássicas, mas porque elas são muito melhores do que essas
canções novas. Essas faixas recentes que foram tocadas são cansativas, chatas e
às vezes até irritantes, caso da ridícula (You
Want To) Make a Memory ou de Whole
Lot of Leavin’. Outro momento patético foi em Who Says You Can’t Go Home onde Jon fez ceninha ao beijar uma fã e
a mesma ficava a todo custo tentando se filmar com o vocalista e mostrava não
saber um trecho da letra da tal canção (o que não é condenável). Patético.
A coisa
melhorou no final com I’ll Sleep When I’m
Dead e o encerramente com Bad
Medicine. A banda voltou ao palco para Wanted Dead or Alive, Have a
Nice Day, Livin’ on a Prayer e Always. Muito pouco para quem teve que aguentar mais de uma hora
de canções chatas um pouco antes.
Um rápido
estudo confirma que se naquele meio do show duas ou três canções fossem
trocadas por Born to be My Baby, Bed of Roses e In These Arms a impressão geral poderia ser outra – ou o show
poderia ter sido menos cansativo e sonolento por mais de uma hora.
--->>> Sábado, 21 de setembro
Sempre competente
No sábado,
21, a primeira banda do palco principal foi o Skank que tem história e canções
o suficiente para dar conta do recado de abrir os trabalhos em um show de uma
hora de duração. Clássico atrás de clássico, de É Uma Partida de Futebol até Vamos
Fugir, os mineiros não deixaram o público descansar, público este que
cantou cada linha de cada letra. Show empolgante para pular do início ao fim.
Samuel Rosa é um baita guitarrista e um frontman excelente, e ainda deu a deixa
para ser aplaudido ao brincar que “fumar
maconha não pode mas fazer mensalão de novo pode!” durante É Proibido Fumar! Ótima apresentação.
Sonolento
Após
Phillip Phillips, que não assisti por escolha própria, veio John Mayer, que eu
aguardava com certo entusiasmo por dois motivos: não conheço a fundo seu
trabalho e nada melhor do que ver ao vivo para conhecer um músico. Tudo me
pareceu muito sonolento e entediante. O cara é um ótimo guitarrista, mas para o
meu gosto não convenceu. Nem Gravity,
que foi a melhor canção apresentada, pareceu muito legal. Algumas pessoas
afirmam que um festival para quase 100 mil pessoas e a céu aberto não é o local
ideal para um show do John Mayer, mas eu já penso que palco é palco e banda boa
soa bem em qualquer lugar. Talvez eu não esteja pronto para ele ainda. Ou não.
Um espetáculo imperdível!
Para fechar
a noite veio Bruce Springsteen e sua E Street Band. Com quase 3 horas de show e
mais de 20 canções, “espetáculo” é a melhor definição para o que este senhor de
64 anos fez naquela noite. Com uma energia vista em poucos frontmans, Bruce
comandou e interagiu com a platéia de forma incrível (alguns tiveram a sorte de ir até o palco, outros foram carregados pelo músico) enquanto desfilava seus
clássicos como Born in the U.S.A., Dancing in the Dark, Glory Days, Born to Run e até mesmo no início do show quando executou de
maneira incrível e em português o cover de Sociedade
Alternativa, de Raul Seixas. O público mostrou conhecer bem o trabalho do “chefe”
ao não deixar nenhuma canção sem resposta. Foi uma apresentação tão brilhante
que faltam palavras e explicações. O melhor mesmo é assistir. E inteiro!
--->>> Domingo, 22 de setembro
De cara o clima do evento era outro no domingo, 22. Dedicado ao heavy metal, vi um público completamente diferente. Se nos outros dias havia muita gente "avulsa", que estava ali para curtir uma grande festa e etc, neste dia toda alma ali presente estava unicamente para acompanhar uma ou algumas das duas bandas do coração. A paixão que o fã de heavy metal tem pelo estilo é algo que não se encontra em nenhum outro lugar, nem mesmo dentro do rock e em fã de banda alguma. Até a fila de entrada para o evento tomou outras proporções; se nos dias anteriores a entrada foi fácil e tranquila, desta vez formou-se fila e os guardas continham a entrada da galera de tempos em tempos para não sobrecarregar na hora da revista. E os ambulantes fora da Cidade do Rock já me davam a dica: "todos os dias tinham que ser como hoje, o dia de shows nem começou direito e eu já vendi tudo. Vocês são foda mesmo, o maior público de todos os dias". E o mar de preto entrava na Cidade do Rock...
Decepcionante
Quem abriu
o Palco Mundo no segundo dia dedicado ao som pesado foram os brasileiros do
Kiara Rocks que foi uma verdadeira decepção e não era difícil encontrar gente
que não estava “nem aí” para os caras no palco – muitos ouviam falar da banda
pela primeira vez. Com um repertório cheio de covers e canções próprias com
letras infantis e um sotaque risível, o que se salvou foi a “emoção” de ver
PauL Di’anno no palco como um dos convidados por ser ex-vocalista do Iron Maiden,
banda que seria a atração principal da noite mais tarde. Mas a coisa mais
constrangedora do show foi ver o vocalista conversar em inglês com o público em
alguns momentos. Totalmente dispensável, muita gente que tocou no Palco Sunset naquele mesmo dia merecia estar ali, como Andre Matos e Viper, ou até mesmo o Helloween.
Brutalizante
Depois de
assistir ao show do Zépultura, a mistura de Sepultura com Zé Ramalho que rolou
no Palco Sunset, uma mistura incrível das canções de Zé em um ritmo mais metal
e que foi muito aplaudido por todos os presentes, foi a vez do Slayer
brutalizar o palco principal. Sem frescuras e sem muita conversa, Tom Araya
(baixo e voz), Paul Bostaph (bateria), Kerry King e Gary Holt (guitarras) mandaram
clássico atrás de clássico sem esquecer fase nenhuma; da recente World Painted Blood até os primórdios com Die By the Sword, a banda fez a
alegria dos presentes principalmente no quarteto de finalização com a sequência
Seasons in the Abyss, South of Heaven, Rainning Blood e Angel of
Death. Não foi difícil achar headbangers das antigas com lágrimas nos
olhos. Principalmente porque durante as três últimas canções foram exibidas
homenagens ao falecido guitarrista e fundador Jeff Hanneman. Um show honesto e
brutal.
Surpreendente
Ao ser
anunciado como uma das bandas do palco principal em dia de Iron Maiden e Slayer
– principalmente ENTRE Iron Maiden e Slayer – muita gente já cagava pela
internet que a banda seria espinafrada, humilhada e sairia de lá com garrafas
plásticas atiradas. O Avenged Sevenfold não só fez um showzaço, digno de banda
grande, como foi aos poucos durante o seu espetáculo conquistando muitos fãs
que estavam sentados descansando pós-Slayer e pré-Maiden e que se levantaram
após as primeiras canções devido à ótima impressão que a banda causou ao vivo - principalmente pela técnica apurada dos músicos e do peso das guitarras.
Não se ouviu vaias e nem objetos arremessados, e sim uma participação cada vez
maior do público. Com um setlist curto (cerca de 12 faixas) e eficiente, os
caras passaram por quase todos os discos da carreira com ênfase no mais recente
Hail to the King e no anterior e
aclamado Nightmare. Aliás, foi
durante a faixa-título deste último que aconteceu o ápice do show e na
faixa-título do primeiro citado os fãs mostraram que estão em dia com os lançamentos
da banda. Um grande show que subiu o conceito da banda com muitos dos
presentes, inclusive deste que vos escreve. E MUITO mais pesado ao vivo do que soa pela tv.
Depois de
tanto debate do porquê Slayer tocaria antes do Avenged o que ficou claro é que
as duas bandas fizeram grandes shows e deram conta do recado, salvando a noite
que havia começado mal.
Não poderia ser diferente
Para
finalizar a noite e o festival, vieram os ingleses do Iron Maiden. Com uma
turnê temática toda voltada à turnê de 1988/89 do álbum Seventh Son of a Seventh Son, a banda chegou ao Brasil pela décima
vez e quando os primeiros acordes de Doctor
Doctor, do UFO, começaram a soar os fãs já sabiam que a banda estava
preparada (a banda utiliza esta canção há anos como introdução do show) e a
correria para o palco foi grande. Sem atraso e com a perícia que lhe é
peculiar, Bruce e Cia entraram com Moonchild,
Can I Play With Madness e The Prisoner. Pronto, o público estava
conquistado. Em alguns momentos a bateria soava muito mais alta do que o
restante dos instrumentos – principalmente as guitarras – mas o problema foi
corrigido no início do show e clássicos como The Trooper e 2 Minutes to
Midnight (com riff executado de forma mais lenta e melódica por Adrian
Smith) levantaram a galera como sempre. Como era de se esperar, Fear of the Dark fez todo mundo cantar
junto e a épica Seventh Son Of a Seventh
Son foi de arrepiar. O gran finale ficou por conta de Aces High, The Evil That Men
Do e Running Free, e assim o Iron
Maiden fecha com chave de ouro o Rock in Rio. Um detalhe interessante e hilário
foi o vocalista Bruce Dickinson tirando uma onda com as cervejas brasileiras
para promover a cerveja da própria banda. Um momento épico daqueles que só o
baixinho provocador Dickinson é capaz.
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