Other Voices e Full Circle : o outro lado do Doors


Por Rose Gomes

No começo deste mês Robby Krieger e John Densmore, eternos integrantes do The Doors declararam que farão um  show em homenagem a Ray Manzarek, morto há quase dois meses em decorrência de um câncer. Além deste show-tributo também serão relançados os dois álbuns que a banda gravou após a morte de Jim Morrison em 1971, Other Voices (1971) e Full Circle (1972) e quero falar um pouco sobre estes dois trabalhos por acreditar que se trata de dois discos muito bons, mas infelizmente pouco divulgados, (nada divulgados no caso do Brasil).


Muitos admiradores do Doors e até mesmo os fãs “mais recentes” não têm conhecimento (ou até têm, mas não se empolgam muito em ouvir) dobre estes álbuns por acreditar que sem o vocalista a banda perdeu a graça. Mas eu como fã e curiosa ao extremo, não só ouvi diversas vezes como gosto demais desses discos e acredito que os caras tiveram a oportunidade de mostrar muito mais neles, sem a figura extremamente carismática de Morrison, que acabava por apagar um pouco seus companheiros de banda.

Other Voices – 1971

Produzido por Bruce Botnick o disco começou a ser gravado enquanto Morrison passava sua temporada de férias na França e acabou sendo lançado já em outubro daquele mesmo ano, apenas três meses após o falecimento de Jim.


O vocal chegou a ensaiar algumas músicas antes de viajar, mas com sua morte o tecladista Ray Manzarek e o guitarrista Robbie Krieger (dupla que compôs todas as músicas desse álbum) acabaram por assumir os vocais.

Other Voices de uma certa forma ainda traz a “presença marcante” de Jim Morrison, afinal, as músicas foram compostas para que ele as interpretasse, e fica fácil imaginar como a belíssima Ships w/Sails e a calma Down on the Farm (essa última inclusive Morrison não queria que entrasse no disco, só Deus sabe o porquê) ficariam na sua voz. Mas, é claro, sem desmerecer Manzarek e Krieger, que souberam levar muito bem os vocais nesse trabalho. E a prova disso é a emocionante Wandering Musician que traz uma bela interpretação do tecladista. Other Voices também apresenta instrumental muito bem executado como nas faixas In the Eye of the Sun (em que o vocal de Manzarek remete um pouco ao de Mick Jagger), Tightrope Ride (com belos riffs) e Hang on to Your Life,(destaque para a guitarra de Krieger e a batera suave de John Densmore). Enfim, Other Voices mostra que os caras saberiam sobreviver sem um grande frontman.


Full Circle – 1972

O oitavo disco de estúdio da banda – o segundo sem Morrison –  traz um Doors mais focado num rock experimental e porque não, até um pouco progressivo. Diferente de Other Voices o álbum traz outras colaborações nas composições além da parceria de Krieger & Manzarek, como a do batera John Densmore, e a lembrança do Rei Lagarto já não aparece neste trabalho.


O álbum abre com a dançante e swingada Get Up and Dance, seguida da graciosa e “sessentista” 4 Billion Souls, com uma interpretação quase beatlesística de Robbie Krieger. Verdilac é sem dúvida um dos grandes destaques de Full Circle. A música traz um instrumental calmo e bem executado, uma verdadeira viagem, com direito a um belo saxofone trabalhando em harmonia com o órgão mágico de Manzarek, que por sua vez contrasta com o solo de Krieger, terminando numa virada espetacular.




O disco ainda traz as apreciáveis Good Rockin (um cover da década de 40), e The Piano Bird (destaque para a presença harmoniosa da flauta), e o último hit da banda, The Mosquito, interpretada comicamente por Krieger e com um excelente instrumental, sendo até hoje  executada nos shows que a banda faz com os remanescentes (porém sem a presença de Densmore).

Full Circle até chegou a figurar na Billboard (68º posição), e na minha mais sincera opinião foi uma pena os caras não seguirem com o Doors, como um Power trio.

Dois álbuns altamente recomendáveis!

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