A delicadeza enigmática do Aphrodite´s Child

Por Rose Gomes



O progressivo é um gênero de música bastante complexo e extremamente bem elaborado. Acredito que tanto os verdadeiros adoradores, como os músicos desta vertente sejam pessoas de vasta sensibilidade musical, pois somente tendo os sentidos bastante aguçados podemos enxergar com exatidão a beleza de cada nota destas canções. 

Geralmente as bandas que fazem esse som são compostas por grandes músicos, que é o caso do Aphrodite´s Child, grupo de origem grega formada no final dos anos 60, mais precisamente em 1968. Nos vocais a primorosa voz de Demis Rousssos  acompanha o talento inegável do multi-instrumentista  e compositor principal da banda, Vangelis Papathanassiou (que viria a ser conhecido por inúmeros trabalhos em temas de filmes como Carruagem de Fogo e  Blade Runner) e o baterista Loukas Sideras.

Instrumental preciso e harmonioso, letras sensíveis, videoclipes “lúgubres” que transmitem a sensação de tristeza e ao mesmo tempo saudosismo fazem  desta banda uma verdadeira joia rara.



Em 1968 a banda lança seu  primeiro single, Rain and Tears, que obteve grande sucesso e vendeu um milhão de discos apenas na França onde serviu como tema dos motins estudantis da época. Posteriormente foi lançado ainda no mesmo ano o álbum debut  “End of the World” que  traz grandes músicas como Don´t Try to Catch a River, Valley of Sadness e You Always Stand in My Way. O destaque deste disco é sem dúvida o instrumental. Teclado e bateria se harmonizam divinamente em todas as canções.





No ano seguinte é a vez de "It's Five O'Clock" chegar às lojas. O disco mantém a mesma pegada de seu antecessor e traz excelentes canções como a faixa título It's Five O'Clock, Let Me Love, Let Me Live e a beatlesística Good Time So Fine. A bateria se destaca mais uma vez e o baixo marca presença fortemente em todas as faixas.









Também não posso esquecer de comentar sobre o belíssimo compacto "Spring, Summer, Winter and Fall", lançado em 1970 que é de uma delicadeza enigmática e tocante.



"666" é o último e mais precioso álbum. Levou mais de um ano para ser gravado e foi lançado quando a banda já havia se separado. Uma verdadeira obra prima lançada em 1972 que traz um trabalho conceitual baseado no Apocalipse de São João, do Livro de Revelações da Bíblia. 

O disco duplo inicialmente era quádruplo, mas foi censurado pela gravadora Mercury, que cortou diversas faixas. Os destaques instrumentais ficam sem dúvida com a bateria bem marcada e o baixo melindrosamente hipnotizante. Por ser conceitual a viagem só fica mesmo garantida se você ouvir o disco faixa a faixa, mas é claro que existem algumas que se destacam mais e bons exemplos são as músicas Do It, que apesar de ser curta traz um instrumental vibrante, The Lamb, Hic and Nunc, Break e Infinity, umas das obras mais polêmicas da banda. A faixa traz a atriz Irene Papas repetindo as frases ""I was, I am, I am to come", uma inversão para "who was, is, is to come" contida no livro da Revelação e atribuída a Deus. A ideia da música é mostrar o momento onde o diabo percebe ser um anjo caído e descobre que a única maneira de sobreviver e ter força é transando consigo mesmo até atingir o orgasmo. A interpretação da atriz é, digamos, bastante convincente, tanto que na Espanha esta faixa foi tirada do álbum e o mesmo teve suas vendas proibidas no país por um bom tempo. Acredito que este álbum seja de extrema importância dentro do gênero progressivo.




Infelizmente a banda se dissolveu e os músicos seguiram caminhos diferentes, mas o que realmente importa é que esta incrível banda deixou trabalhos excepcionais e obrigatórios nas discotecas dos aficionados pelo progressivo.
 




 

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