Mark Knopfler: das arenas com o Dire Straits à intimista carreira solo, Pt. 1

Carlos H. Silva

Mark Freuder Knopfler, nascido em Glasgow no dia 12 de agosto de 1949, possui uma das mais interessantes carreiras da música vinda do Reino Unido (e por que não do mundo?).  Sua mãe, Louisa Mary, era professora, e seu pai, Erwin, um arquiteto húngaro que foi forçado a deixar seu país em 1939 devido a seu parentesco judeu (estamos falando da época em que começou a II Guerra Mundial). Já em Glasgow, após o nascimento de Mark em 1949, veio David Knopfler em 1952. Algum tempo depois, quando Mark tinha 7 anos a família se mudou para Blyth, Northumberland no nordeste inglês.

Ainda jovem, inspirado por um tio que tocava harmônica e pela música boogie-woogie da época, Mark quis comprar uma guitarra. E o modelo que queria já tinha dono: uma Fender Stratocaster vermelha, igual a de seu ídolo Hank Marvin, que tocava com o The Shadows.

Durante os anos 60 formou diversas bandas e escutava cantores como Elvis Presley e guitarristas como Chet Atkins, B.B. King, Django Reinhardt e também naquela década começou a estudar jornalismo na Harlow College, onde depois de um ano foi contratado como Repórter Junior do Yorkshire Evening Post, em Leeds. Dois anos depois ele continuou seus estudos e formou-se na Universidade de Leeds  em Literatura.

Entre 1970 e 1977, Mark dividia suas tarefas entre a profissão acadêmica e a música. Ainda em 1970 chegou a gravar a demo de uma canção própria chamada Summer's Coming My Way. Depois, em 1973, mudou-se para Londres e entrou em uma banda chamada Brewers Droop e chegou a tocar no álbum The Booze Brothers.

É desta época uma das histórias mais interessantes de Mark e que mudou seu jeito de tocar e o fez ser reconhecido até hoje: a técnica de tocar sem palheta. Em uma noite regada a bebidas com amigos, Mark viu um velho violão todo torto, com cordas muito suaves e o único jeito de tocar aquilo era com os dedos. Em entrevista muito tempo depois, Mark diz que ali foi quando descobriu sua voz na guitarra.
Depois da rápida passagem pelo Brewers Droop, Mark assumiu o posto de professor por 3 anos no Loughton College, em Essex. Nesse mesmo período, Knopfler continuou tocando em pubs, principalmente com uma banda chamada Cafe Racers.



Algum tempo depois, seu irmão David Knopfler mudou-se para Londres onde dividia um apartamento com um baixista grandão estranho chamado John Illsley. Não demorou muito para que Mark mudasse para o mesmo apartamento onde os três moraram juntos e John passou a integrar o Cafe Racers.

---->>> Dire Straits: dos pubs às arenas (1977 a 1995)

A mudança do nome de Cafe Racers para Dire Straits foi rápida e já em 1977 uma demo com cinco canções (entre elas, Sultans of Swing ) foi registrada já com o novo nome. A banda era formada por Mark na guitarra e voz, seu irmão David na guitarra base, John Illsley no baixo e na bateria Pick Withers.


Foi com esta formação que a banda gravou e lançou seus dois primeiros álbuns, Dire Straits e Communiqué, em 1978 e 1979, com todas as canções compostas por Mark e suas letras retratando experiências pessoais em Newcastle, Leeds e Londres. Aliás, uma característica dessa fase dos Straits são as letras que retratam bem as visões de Mark sobre suas andanças na Inglaterra. O som dos dois discos é bastante uniforme e mostraram ao mundo o timbre e a pegada característica daquele método próprio que Knopfler inventou para tocar sem palheta. Um som limpo, cristalino e solos de guitarra envolventes marcam as canções dessa primeira fase do quarteto: Wild West End, Lions, Once Upon a Time in the West, Lady Writer, Single-Handed Sailor e, claro, Sultans of Swing. 

Pick Withers, Mark Knopfler, John Illsley e David Knopfler se preparando


Em 1980 veio a primeira baixa: David Knopfler resolve seguir carreira solo e larga o Dire Straits. Making Movies é lançado em trio (com a ajuda de Roy Bittan nos teclados e órgão). O álbum continua mostrando uma abordagem mais pessoal nas letras, porém musicalmente mostra um caminho que se por um lado não foge do que foi registrado nos dois primeiros álbuns, por outro acrescenta mais distorção, mais rock n' roll e uma atmosfera mais épica, como a clássica Tunnel of Love,  a mega balada Romeo and Juliet e as rockers Expresso Love e Solid Rock. 



O disco seguinte trouxe ainda maiores evoluções, Love Over Gold (já com Hal Lindes, substituto de David, na guitarra e Alan Clark como tecladista oficial), lançado em 1982, trouxe a melancólica Private Investigations, um anti-hit que chegou ao segundo lugar da parada inglesa, além da progressiva Telegraph Road e das modernas Industrial Disease It Never Rains. Eram cinco canções, todas com duração maior do que o padrão rádio, uma capa significativa e uma banda instrumentalmente super afiada. Foi o maior flerte dos Straits com o rock progressivo.


Outra baixa ocorre na turnê desse disco: o baterista Pick Withers deixa a banda para se dedicar a família e seu projeto de jazz, e para o seu lugar é chamado Terry Williams. Pick era um baterista suave, que privilegiava combinações fortes em detrimento da força e velocidade, bastante jazzista; já Terry era um demolidor rock n' roll e que também tinha uma técnica absurda. Sua estreia foi no EP ExtendeDanceEPlay , que tem apenas 4 canções fortemente influenciadas pelo swing e pelo boogie-woogie, aquele mesmo que fez Mark querer ser músico lá atrás.


Em 1983 a banda continuava em turnê e seus shows no Hammersmith Odeon, em Londres, foram gravados para o futuro disco ao vivo que foi lançado em 1984, Alchemy Live, um dos maiores registros "live" da história. A sintonia desta formação nos palcos foi claramente registrada nesse duplo ao vivo que, perdoem o trocadilho, é pura alquimia. Mais sobre ele clicando aqui.


A obra máxima do Dire Straits veio a seguir, em 1985, sob o nome de Brothers in Arms . Gravado nos estúdios Montserrat e com um tecladista a mais na banda, Guy Fletcher, o álbum tornou-se um dos mais vendidos da história da música e até hoje permanece como o quarto disco mais vendido da história da Inglaterra (só por curiosidade: atrás de Queen, the Beatles e Oasis). Brothers in Arms teve uma chuva de hits de sucesso como a #1 e rocker Money for Nothing, que tira uma onda com a galera dos cabelos armados dos anos 80, a baladona So Far Away, a agitada Walk of Life , e quem não conhece as melodias de Why Worry e Your Latest Trick? A faixa-título também tornou-se clássica. Uma curiosidade sobre a gravação do álbum é que o baterista Terry Williams gravou somente a introdução da faixa Money for Nothing no álbum todo. O restante do disco foi gravado pelo baterista contratado Omar Hakim, por ter uma pegada mais suave e técnica, que combinava mais com as canções do disco. E ao escutarmos com atenção, veremos que o momento mais brutal do álbum é justamente  a introdução de Money for Nothing, que combina com a pegada forte de Terry; mas o músico ainda continuou na banda e fez a turnê mundial.

A banbda na turnê do Brothers in Arms: Chris White (sax), Alan Clark (teclados), Terry Williams (bateria), Mark Knopfler, John Illsley (baixo), Guy Fletcher (teclados), Jack Sonni (guitarra)


 O álbum também tem outras marcas: o clipe de Money for Nothing foi o primeiro a passar na MTV inglesa e o disco é considerado o primeiro disco a vender um milhão de cópias no formato CD, fato que faz com que considerem que ele é o maior responsável pelo sucesso do CD, assim como também foi o primeiro a receber o famoso DDD: Digitalmente gravado, Digitalmente remasterizado e Digitalmente remixado. A turnê de 1985/86 contou com mais de 230 shows nas arenas de quase todo o mundo e foi um sucesso enorme.
Naquele momento o Dire Straits era uma das maiores bandas do mundo - talvez a maior.


Após a turnê, os Straits ficaram um bom tempo recolhidos e entre 1987 e 1990, Mark compôs trilhas sonoras (uma constante em sua carreira desde o começo dos anos 80), participou de eventos beneficientes  e até participou de um quadro de comédia com David Gilmour (Pink Floyd), Lemmy (Motörhead) e Gary Moore, chamado The Easy Guitar Book Sketch. Um detalhe curioso dessa gravação é que Mark usou uma guitarra emprestada de Gilmour e teve que "configurá-la" até a mesma soar como Knopfler queria.


A única reunião do Dire Straits nesse período foi em 1988, no aniversário de 70 anos de Nelson Mandela no estádio de Wembley, onde a banda foi a atração principal da festa, que ainda contou com Eric Clapton e Elton John. Nessa época, Mark e Eric tinham uma amizade muito grande e isso se refletiu nos palcos. Eric fez a guitarra base para os Straits e Mark retribuiu cumprindo o mesmo papel em alguns shows de Clapton.


Depois de mais uma apresentação em 1990 (já sem Terry Williams que deixou a banda em 1989), o Dire Straits voltou oficialmente em 1991.  Mark, John, Alan e Guy se reuniram em estúdio com um time de músicos contratados formado por Phil Palmer (guitarra), Danny Cummings (percussão) , Paul Franklin (slide/pedal steel) e Jeff Porcaro (bateria) para gravar On Every Street, aquele que foi a despedida do Dire Straits dos álbuns de estúdio e das grandes turnês em arenas. O disco não foi tão bem recebido pela crítica, mas o sucesso de vendas aconteceu e a turnê foi tão grandiosa quanto a anterior. Um vídeo e disco ao vivo foi registrado e nominado On the Night.


Em 1995, após um lançamento para cumprir contrato, Live at BBC , registro com shows de 1978 e 1980, Mark encerra o Dire Straits de forma oficial, se despede dos grandes espetáculos abertos e começa uma bela e elegante carreira solo.

A última encarnação do Dire Straits: em cima, Chris White (sax), John Illsley (baixo), Phil Palmer (guitarra) e Paul Franklin (slide/pedal steel). embaixo: Alan Clark (teclados), Danny Cummings (percussão), Mark Knopfler, Guy Fletcher (teclados) e Chris Whitten (bateria)


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