Titãs em, Õ Blésq Blom e os Reis do Rock Nacional.

por João C. Martins

Atualmente algo que está em grande falta, em termos de conterrâneos, são canções em nossa Língua materna. Claro que existem centenas de milhares de bandas nacionais que criam seus repertórios quase que inteiros em português, contudo quando se fala de Rock, isso se fragmenta com uma força relativamente desproporcional, afinal de contas é incontestável que o peso desse estilo musical forma um par muito mais elegante com nossos amigos oriundos dos Célticos, Indo-europeus e o escambau, do que com nossos parentes Latinos. Além desse casamento parecer ser de uma sinergia muito maior, não se pode desconsiderar o fato de que o berço Rocker vem daqueles que tem como idioma o Inglês - e só tenho a agradece-los pela criação – embora haja a necessidade de sinceridade nesse discurso, pois assim como todo bom fã, gosto de cantar aquelas canções que mais me marcam, e não só cantar, entender, imaginar o porquê de cada palavra escolhida, imaginar a loucura que passava pelas cabeças dos autores quando compuseram aquela determinada faixa, e Clássicos do Rock, as vezes não são tão bem interpretados por mim como deveriam, pelo simples fato de não ser um nativo, tampouco fluente no léxico em questão, e assim acabo deixando me levar por deduções, traduções equivocadas, inferências et cetera. 
Não quero colocar em pauta nenhum tipo de depreciação quanto a uma forma ou outra, que isso fique claro, mas que realmente faz falta assistirmos mais bandas que falem, não somente com a gente, mas para a gente. Uma das bandas que ainda faz isso, e lançou no ano passado (2013) um excelente álbum, todo em português, são as Vespas Mandarinas – que você pode ler mais clicando aqui – banda essa que se orgulha à beça de dizer que faz Rock Nacional, literalmente falando, e é claro que isso influenciado por alguma outra que também fizera o mesmo, e sabemos que em meados dos anos 80, muita, mas muita banda boa de Rock surgiu no cenário brasileiro como se fosse tudo combinado, exemplos disso: Ultraje a Rigor; Golpe de Estado; Paralamas do Sucesso (apesar de ser um pouquinho mais velho); Plebe Rude; Camisa de Vênus; e muitas outras. Eu admiro tremendamente essas bandas, porque eles se consolidaram falando para nós, como já disse e repito, não critico quem se consolidou, também, cantando seja lá como for, mas tenho uma admiração, um tiquinho assim, maior por bandas que abusam do Português da gente. Das bandas que citei como referências, não citei a minha favorita, justamente para fazer um pouco mais de suspense, mas como sei que não gosta disso, partirei logo para os finalmentes, mas não sem antes um bocadinho a mais de prosa.
A banda cujo o qual encarregar-se-á do tema, é simplesmente única, sem medo de controversas digo isso, já que não houve um disco deles sequer, que tenha sido ruim, na minha opinião, tiveram milhares de contratempos, desavenças nas gravações, mas tudo foi resolvido com o bom e velho Roquenrol (para abrasileirar a conversa). São Titânicos naquilo que fazem… ops! Acho que a dica foi um pouco exagerada, não? Se ainda não ficou claro, Titãs marca presença na Resenha de hoje.

Definitivamente uma das melhores bandas do Brasil. O disco do qual teremos o privilégio de falar agora, não pertence àquela tríade, tida como a trilogia sagrada da banda, constituída por Televisão (1985), Cabeça Dinossauro (1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (1987). O que encabeçará o nosso papo veio dois anos depois do último citado. O álbum é Õ Blésq Blom (1989), só porque é o que eu mais gosto.
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Como está sendo colocado na mesa a falta de brasilidade nas bandas atuais, não encontro um trabalho melhor, tanto deles, quanto de qualquer outra para representar isso, pois as letras falam da realidade de nossa pátria, a sonoridade tem um estilo bem peculiar, parametrizado com o que eles haviam feito até então, sem contar a arte da capa, toda confeccionada de forma artesanal. A faixa introdutória faz jus a tudo isso que acabou de ser dito, chama-se Miséria.
Obs.: No disco encontra-se como primeira faixa, Introdução por Mauro e Quitéria, que é um capítulo a parte que já será abordado.
Titãs feat. Rei do Rock e Quitéria – Miséria

Quase chorei assistindo isso…
Mauro (O Rei do Rock) e Quitéria são um show a parte, tanto na introdução quanto no desfecho do disco.
A letra de Miséria retrata, irrefutavelmente, algo que parece atemporal no Brasil. “Miséria é miséria em qualquer canto”, desde que nos conhecemos por gente, e ninguém faz nada para que seja o contrário.
Em seguida, outra faixa que apresenta com muita ênfase essa questão de desigualdade absurda, que presenciamos, sem ter que ir muito longe, a letra que falará disso é a de Rácio Simio. Dando uma pausa em toda essa crítica social, temos a presença de O Camelo e o Dromedário, que também utiliza em sua fala as implicâncias humanas, mas de uma forma, relativamente, mais descontraída, e rende boas risadas.
Titãs – O Camelo e o Dromedário

Quando se fala de hits, não podemos deixar de lado as que virão a seguir. Palavras, Medo, Flores e O Pulso, são aquelas tidas como Pop, já que todos conhecem mesmo sem ter ouvido o LP do início ao fim, ou qualquer outra coisa que o valha. Creio que essas canções não tenham necessidade de apresentação, então deixemos para ouvi-las quando dermos o play no completo.
Próximo ao fim, 32 Dentes, de enredo, posso dizer que, simples e efêmero, resume quase toda a história do full lenght, já que todo o assunto está envolto à miséria, desavenças, críticas infundadas. A décima parte desse compacto, limita-se a dizer que nunca mais vai dizer o que realmente pensa, ou o que realmente sente, e que jura, mas jura por Deus. Não se deve confiar em ninguém com mais de trinta, tampouco em alguém com mais de 32 dentes.
Titãs – 32 Dentes

Branco Mello parecia estar, um pouco, louco na apresentação.
Faculdade soa como Rácio Símio, por dois fatores: 1-) Falam de temáticas similares; 2-) Nando Reis é que canta. Sua levada no teclado é contagiante, e ouvi-la uma vez é sinônimo de cantarolar a melodia durante dias. Para finalizar Deus e o Diabo é a chave de ouro que consagra esse excelente trabalho. O que consigo interpretar nessa canção são os antônimos, antíteses, contraposições, ou qualquer coisa que seja oposta, para falar das ações de Deus e do Diabo, entretanto sejam essas ações representadas, se assim posso dizer, num ambiente familiar, sendo por vezes Deus a Mãe enquanto o Diabo é o Pai, ou como crianças as vezes animais, seres inanimados como quando diz que “Deus é o teto da casa, o Diabo é a porta dos fundos. o Diabo é o chão da cozinha, Deus é Vão da entrada”. Incríveis analogias, fazendo todo o sentido quando comparadas ao que, de fato, se vivência.
Titãs - Deus e o Diabo

Retomando a algo que disse no início, esse é o disco que mais gosto deles, muito também pela linha de baixo que é bem mais forte que em muitas outras obras dos caras. Recomendo quantas vezes for necessário, e espero que também passe a ser uma de suas referências a partir de hoje, se por acaso já não é. Fique com o álbum completo.
Titãs – Õ Blésq Blom (Álbum completo)

1 – Introdução Mauro e Quitéria
2 – Miséria
3 – Rácio Símio
4 – O Camelo e o Dromedário
5 – Palavras
6 – Medo
7 – Natureza Morta
8 – Flores
9 – O Pulso
10 - 32 Dentes
11 – Faculdade
12 – Deus e o Diabo
13 – Vinheta final por Mauro e Quitéria

E como a escalação do time era muito grande, deixei para o final:
Arnaldo Antunes: vocal
Branco Mello: vocal
Charles Gavin: bateria e percussão
Marcelo Fromer: guitarra e violão
Nando Reis: baixo e vocal
Paulo Miklos: saxofone e vocal
Sérgio Britto: teclado e vocal
Tony Bellotto: guitarra e violão


Observações:
- Mauro, que segundo fontes de pesquisa, era estivador, se auto-intitulava como Rei do Rock, em suas composições repentinas;
- Há quem diga que Marcelo Fromer e Tony Bellotto não aceitaram muito bem a ideia proposta para esse disco, pois ele não tem tantos riffs de guitarra, quanto se espera de uma banda de Rock;
- Outra história pertencente ao, “Há quem diga”, refere-se ao significado título do disco, batizado por Mauro (Rei do Rock), que traduzindo quer dizer “Os primeiros homens que andaram sobre a Terra”;
- O documentário A vida até parece uma festa, fala bastante dos caminhos percorridos pela banda, e clicando aqui você poderá conferir, um trecho, o que fala da história de Mauro e Quitéria.
-  Me desculpe pelos meus termos em Inglês, mas é que odeio repetições.

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