O Som Nosso de Cada Dia nos dai hoje

Por João C. Martins

O mundo da música realmente prega peças na gente, não é? Se é! Desde pequerrucho estou habituado a ouvir coisas legais, como The Beatles, Rolling Stones, The Doors, T-Rex, entre outras, por conta do meu pai que é um pré-sexagenário saudosista de uma figa, que vivia colocando esse tipo de som mais alto que Hosana para que todos nós apreciássemos. Entretanto, absorto de tanto ouvir coisas legais, talvez (disse talvez) parti para um lado negro da força durante certa parte da minha vida, que honestamente prefiro que fique apenas na sua imaginação, salientando que isso já passou evidentemente, e acabei me deixando levar por algumas babaquices musicais que não tinham nem pé, piorou cabeça. Então acabei me perdendo, vamos assim dizer.

Com o passar do tempo e a maturidade chegando, o que é bom acabou voltando a tona, que é um processo natural da vida, e comecei então a ouvir os clássicos obrigatórios com mais assiduidade, além de suas adjacências, é claro, e assim consegui, até mesmo, veja só, ser convidado a escrever num blog de música (cá estou), para falar de um subgênero nada conhecido por nós brazucas, que é o Stoner. Quis o destino então, que eu conhecesse uma galera Progressiva Funkeira, na ELM escola de música, que, de fato, me expandiu ainda mais os horizontes, me apresentando inclusive o grupo tema do papo de hoje. Não vou falar de Stoner, mas vou falar de uma das maiores bandas, se não a maior, de todo o Brasil em termos de Rock Progressivo. Três monstros sagrados fizeram a história desse supergrupo, porém infelizmente apenas dois discos de estúdio, além de uns três trabalhos ao vivo e algumas compilações, entretanto já é o bastante para que tenhamos um divisor de águas na nossa reles e medíocre concepção musical. O tributo hoje, é prestado a Manito, Pedrinho e Pedrão Baldanza, ou melhor dizendo O Som Nosso de Cada Dia!

5 - O Som Nosso de Cada Dia

Que banda! Com certeza trata-se de uma audição obrigatória a qualquer um que diga que tem algum envolvimento com música.

Como citado, dos poucos álbuns que tiveram, iremos abordar aqui aquele que é relíquia, o mais Rock ‘n’ Roll de todos os tempos, ele se chama Snegs (1974)

Som Nosso De Cada Dia (1974) Snegs

A qualidade musical que esses caras apresentaram em seu primeiro disco é de cair o queixo, cair dois se assim os tivéssemos.

Lembro da primeira vez que os ouvi, e foi a recomendação de meu professor de música Endell Magalhães, tendo sido uma faixa do disco que lançaram depois desse, o chamado Som Nosso (1977), mas vulgarmente conhecido como Sábado e Domingo (história para outro dia), e era a canção que se conhece pelo nome de Bem no Fim (Tinta preta fosca). Eu fiquei impressionado com aquilo, com aquela linha de baixo, com aquela letra e fiquei pensando, “Caralho! Ele toca e canta tudo isso ao mesmo tempo?”, e sim eles faziam tudo isso, e ainda mais. Embora tenha ouvido essa canção, a atenção maior ficou para a recomendação do professor ao disco Snegs, sem contar a beleza que era aquele vinil que estava por ali me hipnotizando a cada segundo. Cheguei em casa e mal deu tempo de fazer outra coisa, e já baixei ambos os discos. Infelizmente ainda não consegui comprar o bolachão.

Como estamos falando da pérola de 74, vamos falar de Sinal da Paranoia, a que abre esse grande espetáculo.

A densidade dessa música, somado à psicodelia, ao trabalho, à técnica, fazem com que suas concepções musicais atuais passem a ser um pouco ignoradas, a princípio, de tão magníficas que são. Como sou um grande adepto dos baixos, não posso deixar de frisar as linhas complicadíssimas elaboradas por Pedrão Baldanza, que vão do grave ao agudo, do groove ao quadrado, as oitavações, sem contar a técnica vocal absurda desse monstruoso intérprete.

Vale mesmo a pena! Meu Deus! Isso é de outro mundo!

O que mais me inebria nessa conversa toda, é a mescla entre essa compassidão, me refiro à música compassada, que é sucedida por um Rockão, bem típico dos anos 70, essa chamada de Bicho do Mato. Haverá fulanos e beltranos dizendo que o Deep Purple já fazia isso, ou que qualquer outra banda do gênero o fazia, e Ok! Fazia realmente, assim como antes deles o Blues já tinha feito parecido, assim como o Jazz, assim como a música clássica e daí por diante, ou para trás, você que decide. O fato é que esses caras, colocaram brasilidade nesse Rock de caráter britânico que tanto gostamos, e quer coisa melhor que isso? Além de entender a fala, entender a cultura, as gírias, os porquês! Eu adoro isso e posso ouvir por dias ininterruptos.

Um disco formidável, sem sombra de dúvidas.

Para finalizar, deixarei a sua interpretação, a poesia dessa próxima canção. Ela chama-se Massavilha. E digo mais, não irei compartilhar contigo a versão da própria banda, mas sim a versão de um dos caras que mais admiro no mundo da música. A emoção que é transmitida via https:// é indescritível. Preciso parar de falar. Aproveite aí.

Faixas:

01- Sinal Da Paranóia

02- Bicho Do Mato

03- O Som Nosso De Cada Dia

04- Snegs De Biufrais

05- Massavilha

06- Direccion De Aquarius

07- A Outra Face

08- O Gurani (Faixa Bonus)

Comentários

Postar um comentário