Angra: renovado e revigorado em Secret Garden

Após 4 anos, o Angra ressurge com seu novo trabalho de inéditas, Secret Garden, após mais uma reformulação na banda: o vocalista Edu Falaschi deu adeus em 2012, enquanto o baterista Ricardo Confessori saiu no início de 2014. Para a bateria a banda recrutou Bruno Valverde e no vocal Fabio Lione (Rhapsody of Fire) ficou com a vaga temporária para depois ser confirmado oficialmente como novo vocalista e se juntar a Kiko Loureiro (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra) e Felipe Andreoli (baixo).

A concepção e criação da arte gáfica foi feita por Rodrigo Bastos Didier


Após o primeiro “renascimento” com Rebirth em 2001, o Angra novamente se reinventa em Secret Garden, que teve pré-produção do famoso Roy Z. e a produção final de Jens Bogren. O disco mostra uma faceta diferente da banda: além de pisarem (bem) mais fundo no lado progressivo, o grupo deixou Rafael Bittencourt soltar a voz em várias canções, mesmo tendo um novo vocalista com grande nome dentro da cena.

Os fãs da banda que gostam daquele lado mais “speed metal” e operístico da banda podem se deleitar com Black Hearted Soul e Perfect Symmetry, ambas com grande potencial de marcar pontos altos do show ao vivo e elos fortes com os clássicos da banda no estilo.

Newborn Me abre o disco com uma pegada prog e um refrão feito para o público acompanhar; Final Light é uma das que mais lembram o velho Angra (da fase Edu) e mantem o lado progressivo em evidência, assim como Violent Sky, cantada por Rafael, talvez a mais “diferente”, por ter o tipo de riff mais moderno que não estamos acostumados a ouvir vindo do Angra, e a balada Storm of Emotions, em que Fabio e Rafael dividem os vocais. E por falar em balada, impossível não destacar a pinkloydiana Silent Call, que encerra o álbum com uma sutileza incrível e um bonito trabalho de vozes.

Outra boa canção do bloco progressivo de Secret Garden é Upper Levels, que se inicia com uma batida brasileira que lembra os tempos de Holy Land, depois cai em riffs e vocalizações que remetem ao Temple of Shadows e do meio para o final tem um ótimo trecho instrumental que pode agradar até os fãs de Dream Theater.

Há ainda duas participações especiais: Simone Simmons (Epica) assume sozinha os vocais da faixa-título, uma balada com contornos épicos em que a vocalista mostra uma bela interpretação sem fazer uso dos seus famosos vocais líricos. A segunda participação fica com a maior vocalista mulher da história do heavy metal: Doro Pesch, que divide os vocais com Bittencourt em Crushing Room, outra faixa que soa grandiosa e cheia de nuances, onde a alemã consegue se destacar.

Secret Garden acaba se tornando mais um divisor na carreira do grupo: mais uma vez a banda superou uma traumática mudança de membros e claramente os músicos apostaram em uma abordagem mais progressiva do que o clássico power/speed metal que deixou a banda famosa, soando renovado e rejuvenescido, bem ao contrário dos últimos dois discos de estúdio; além, claro, de termos pela primeira vez na carreira da banda o guitarrista Rafael soltando a voz em quase metade do disco e dividindo os vocais com o vocalista principal do grupo.

E só como cereja no bolo: o disco é conceitual e conta a história do personagem Morten Vrolik que após perder sua esposa precisa repensar e colocar em prova toda sua fé e convicção.

Talvez Secret Garden seja o verdadeiro “renascimento” do Angra. E, olha, demorei para pegar o ritmo, mas a cada ouvida eu gosto um pouco mais.


Nota: 8.5

Carlos H. Silva


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