Ordenado e Progressivo, o desconhecido, controverso e único álbum do Perfume Azul do Sol.

Por João C. Martins

Cumprindo parte da promessa que fiz na semana passada, hoje apresentarei uma resenha, se é que isso que faço pode ser chamado assim, de um disco que é maluco, absurdamente bem construído e infernalmente brasileiro. Ele estava naquela lista da semana passada, que falava sobre os anos 70 e o Brasil. Pois bem, a banda é o Perfume Azul do Sol. Só pelo nome a gente já percebe com quem estamos lidando, não? Pena que não vou colocar fotinhos dos integrantes, até porque nem sei como são as caras deles, exceto do baixista Pedrão Baldanza, o monstro sagrado do Som Nosso de Cada Dia. Infelizmente nunca tive a oportunidade de ter o vinil em minhas mãos para poder ler toda a ficha técnica da parada. Apesar disso, a galera toda da internet diz por aí que a escalação desse time de ouro era: Ana (vocal e piano), Benvindo (vocal e violão), Jean (guitarra), Gil (bateria) e, como já citado, Pedrão Baldanza (baixo). O álbum foi chamado de Nascimento e lançado em 1974. 

Embora em algumas de minhas postagens eu pareça um pouco ditador e inflexível, gosto de assumir que leio um monte de coisa que escrevem nesse mundo virtual e tenho muito prazer em dizer que concordo com algumas e discordo de outras. Assumo isso, com o único intuito de deixar claro que não falo nenhuma verdade absoluta, tampouco quero desmascarar alguém. 

Na minha humilde e grotesca opinião, esse disco é um clássico do progressivo nacional. Há quem diga que não, por conta das mesclas encontradas nele, desde as guitarrinhas funkeadas e fuzzeadas e seus estilos lo-fi de ser, que o eram por pertencerem a uma época em que tudo tinha som de coisa velha. E isso, caro leitor, não é ruim nem bom, tem quem goste - meu caso - e quem não goste. Enfim, o estilo concordo que realmente foge daquelas desconcertantes canções que foram chamadas de Rock Progressivo, mas o que eu quero destacar aqui para defender a minha teoria é o valor semântico de Progressivo. Óbvio que se você procurar o significado do verbete, ainda mais se for associado à música, será trazida uma explicação muito superficial, dizendo que são composições longas e difíceis de tocar, o que é verdade em sua maioria. Entretanto, o que eu encaro como progressão neste caso, é essa evolução musical apresentada pela banda. Além do Rock e de suas similaridades, eles conseguiram misturar a agressividade e a soturnidade sombria comum no estilo, com baião, letras psicodélicas, uns tempos as vezes quebrados as vezes justos, apontando de maneira categórica uma evolução tremenda daquilo que vinha sendo mostrado por outros conjuntos até então. Isso não quer dizer que as composições anteriores a eles eram inferiores, mas assim como hoje vemos acontecer, os interesses eram muito fragmentados e para que pudessem ser feitos tinham que ser assim ou assado, e jamais assim e assado. 

O Rock Progressivo, em sua maior parte, mescla a agressividade do Rock and Roll com a complexidade do Jazz e da música clássica, e o Perfume Azul do Sol fez isso, mas misturando outros gêneros também e por isso eu o classifico dessa forma.

Em prol da progressividade do disco aqui tematizado, uso como exemplo o próprio Som Nosso de Cada Dia, que lançou o Snegs (1974) de forma esmagadora, fazendo com que os conhecedores classificassem-o como o Camel brasileiro. Entretanto, o segundo trabalho de estúdio que lançaram, intitulado Som Nosso (1977), começa com um Funk, no melhor estilo James Brown para dançar, ou melhor, Pra Swingar mesmo. 



Isso não fez com que perdessem o estilo progressivo deles. Embora alguns tenham torcido o bico, só de ouvir faixas como, Bem no fim (Tinta Preta Fosca), Neblina, Estação da Luz, Vida de Artista, incontestavelmente percebe-se a alma roqueira em cada um deles. 

Pois bem, antes de concordar com esse texto e sair espalhando por aí a descoberta, aconselho você a escutar essa maravilha. Mesmo que não concorde com nada disso que eu escrevi, com certeza irá concordar que é um baita de um álbum e que entrou para a história do Rock brasileiro.



1 - 20.000 Raios de Sol
2 - Sopro
3 - Calça Velha
4 - Deusa Sombria
5 - O Abraço do Baião
6 - Equilíbrio Total
7 - Nascimento
8 - Pé de Ingazeira
9 - Canto Fundo
10 - A Ceia

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