Adeus, Black Sabbath!

Texto publicado em 15/01/2016 em Riffs e Conversas
No próximo dia 20, na cidade de Ohama no Estado de Nebraska, na América, o Black Sabbath dará início ao fim.
Será o primeiro show da The End Tour, a despedida dos criadores do heavy metal dos palcos, dos álbuns, de tudo.
Sim, o gênero musical que nós tanto amamos só existe por causa desses caras: Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward (o último não fará parte da turnê). Não adianta alguns idiotas tentarem menosprezar o Sabbath dizendo que "ain, mas em 1960 e alguma coisa teve uma banda que já tocava pesado" ou "ainn, ocultismo na música não começou com Black Sabbath". Se você é um desses, você ainda não sacou que heavy metal não é apenas tocar com distorção e muito menos começar a falar sobre ocultismo ou com uma perspectiva mais obscura. O Black Sabbath criou e definiu conceitos, padrões e definitivamente fez nascer um gênero. Ozzy com seu vocal longe de qualquer técnica, mas completamente dentro da proposta musical, soa único em diversos aspectos, desde o timbre até a característica de seguir os riffs de Tony, passando por aqueles agudos memoráveis que ainda jovem conseguia alcançar; Tony Iommi, como já disse Scott Ian, do Anthrax, "criou todos os riffs do mundo, o que a gente faz são só variações do que ele já criou", camadas pesadas, timbre único e poderoso, quase assustador (Supertzar me dá medo e a intro de Falling Off the Edge of the World me faz temer o apocalipse); Geezer Butler escrevia a maioria das letras e ainda era capaz de criar hipnotizantes linhas de baixo gordas e pesadas; Bill Ward incorporava uma inesperada batida jazz e o swing das big bands no som pesado e tenso do Black Sabbath.
O primeiro disco, autointitulado, lançado em uma sexta-feira 13 de 1970 (nada mais justo para a invenção do heavy metal!) marcou sua própria história com os sinos da faixa-título e a letra de N.I.B. (basicamente Ozzy canta interpretando Satan); o segundo disco, Paranoid, é considerado por muitos o melhor, tem grandes clássicos, entre eles os maiores: Iron Man, War Pigs Paranoid.
Após serem acusados por grupos religiosos de satanistas (que grupo de heavy metal ou hard rock não passou por isso nos anos 70 e 80?), Geezer escreve a pancada After Forever, presente no terceiro álbum, Master of Reality (que, aliás, é a bíblia de qualquer fã de Stoner/Doom metal), onde faz uma verdadeira declaração de "não somos satanistas, pelo contrário, acreditamos em Deus e Ele é a salvação", o que muitos consideram como a primeira faixa de "metal cristão" já composta. O baixista é católico.
Vieram VOL. 4Sabbath Bloody SabbathSabotageTechnical Ecstasy e Never Say Die. Alguns são clássicos absolutos, outros nem tanto. Assim se findou a primeira década de existência da criadora e maior banda de heavy metal de todos os tempos com sua formação clássica e original. Entre 1980 e 1996 o Sabbath viveu uma feira com gente saindo e entrando a todo momento; foram mais 4 vocalistas depois de Ozzy (só os que gravaram discos oficiais), entre eles os lendários Ronnie James Dio, que também gravou álbuns históricos com a banda, Heaven and Hell e Mob Rules,  além de Dehumanizer, Glenn Hughes e Ian Gillan - que gravou um dos meus favoritos, Born Again. Tony Martin foi o que mais durou e gravou bons discos como Eternal Idol e Headless Cross.
Desde 1997, quando reuniu-se a formação original, só pudemos ver o Black Sabbath com Ozzy nos vocais. E desde a reunião de 2013, sem Bill Ward; que por problemas contratuais não retornou para o derradeiro álbum 13.
O Black Sabbath - e Ozzy Osbourne de maneira especial - foi muito importante para a minha "escola musical", pois foi a primeira banda pela qual eu me apaixonei de verdade.
Comecei a escutar heavy metal com Iron Maiden e aquilo me deixou completamente alucinado. Aquele mundo novo. Som novo. Visual novo. Era algo que eu não tinha contato. E eu fiquei vidrado no Iron Maiden por um bom tempo quando eu tinha cerca de 12 anos e ouvia minha fita K7 do Live After Death no meu walkman. Mas um tempo depois eu descobri a carreira solo do Ozzy Osbourne e por consequência o Black Sabbath. E foi pelo Black Sabbath que eu me apaixonei profundamente. Já deveria ter uns 13 anos pois foi quase na mesma época que a faixa Psycho Man começou a tocar nas rádios, em promoção do álbum ao vivo Reunion, de 1998. A partir daquele momento eu comprava qualquer revistinha chulé que tinha qualquer coisa do Ozzy e Sabbath, guardava graninha para comprar cds da banda - aliás, o primeiro cd que eu fui sozinho na loja comprar e tudo o mais, foi o próprio Reunion, em que paguei 38 reais numa segunda-feir, na única loja de cds que havia em Caieiras, depois de ganhar 40 reais do meu padrinho no domingo anterior. São memórias afetivas que eu desejo nunca esquecer. De qualquer maneira estão eternizadas aqui agora.
Eu tenho até hoje cada fala do Ozzy naquele disco decorada. Eu ouvia aqueles dois cds o dia inteiro. Era a minha banda preferida de todo o universo - mesmo que o meu universo naquela época (sem internet, ainda sem uma quantidade considerável de material impresso e meus amigos daquela época só ouviam metal extremo - costumo "brincar sério" que eu conheci a discografia completa de bandas como Cannibal Corpse e Benediction antes de conhecer por completo os discos mais clássicos de bandas do "bê-a-bá" como Deep Purple ou Led Zeppelin) era pequeno feito uma pulga comparado ao que eu conheço hoje em dia. E foi minha banda favorita durante muitos anos.
E pode ser que tenha deixado de ser minha banda favorita, ou melhor: uma vez favorita, sempre favorita; as outras é que vão se juntando à ela, que foi a primeira. Mas voltando... com o passar dos anos, outras bandas se tornaram essenciais na minha vida, mas eu tenho a certeza que muitas delas seriam completamente diferentes se não fossem Ozzy, Tony, Geezer e Bill terem se juntado no final dos anos 60 para inventar um novo tipo de rock.
Adeus e OBRIGADO, Black Sabbath! \m/
1970-black-sabbath

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